Pouco mais de três meses antes de ser assassinada a tiros em Alfredo Chaves, na Região Serrana do Espírito Santo, a enfermeira Íris Rocha, de 30 anos, grávida de 8 meses, fez um boletim de ocorrência relatando ter sido agredida e pediu uma medida protetiva contra o ex-namorado. Cleilton Santana dos Santos, de 27 anos, foi preso no início da tarde desta quinta-feira (18) suspeito do assassinato.
O boletim de ocorrência de Íris foi registrado no dia 5 de outubro de 2023. No documento, a enfermeira relatava que havia sofrido agressão do então namorado. Segundo o documento, na época do registro, o casal estava junto havia cinco meses e a enfermeira estava grávida de 15 semanas.
Consta no boletim que os dois estavam conversando quando o homem deu um golpe chamado de “mata-leão” em Íris, fazendo com que a enfermeira desmaiasse. Quando recuperou os sentidos, Íris estava com o nariz sangrando e tossindo.
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Ainda segundo o boletim, o próprio agressor teria dado banho na enfermeira, que depois foi trabalhar. Ao contar o que aconteceu para uma colega, Íris foi incentivada a registrar o boletim de ocorrência. Na ocasião, ela também solicitou medida protetiva.
Segundo a delegacia Maria da Glória Pessotti, o casal tinha um relacionamento abusivo. O ex-namorado monitorava Íris de várias formas e proibia que ela usasse certos tipos de roupas. Em alguns casos, mandava ela usar roupas compridas para encobrir marcas de agressões.
“Ele controlava toda a vida dela, de passar horas durante o dia no local de trabalho dela. O telefone dela ficava com ele. Ele que monitorava, que respondia as mensagens que ele recebia”, destacou.
Suspeito também registrou B.O.
No mesmo dia, Cleilton também registrou um boletim de ocorrência contra Íris. No documento, ele informou que manteve um relacionamento com a enfermeira por seis meses e o término aconteceu devido ao comportamento destemperado da vítima.
Consta ainda no boletim registrado por Cleilton que os dois tiveram um último contato no dia 4 de outubro, por volta das 22h, o que causou preocupação no estudante. Dois dias depois, a enfermeira teria entrado em contato com o suspeito e dito que havia feito um boletim de ocorrência contra ele, mas, caso os dois reatassem, retiraria a queixa.
No registro, Cleilton disse ainda que a denúncia de Íris era caluniosa.
Ex-namorado foi preso
De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp), Cleilton foi preso nesta quinta-feira (18) em uma ação conduzida pela Polícia Civil, por meio da Delegacia de Polícia de Alfredo Chaves.
“As diligências que culminaram na prisão tiveram a participação de diversas delegacias da PCES, da Subsecretaria de Inteligência da Sesp e de outras instituições, que trabalharam em conjunto”, completou a Sesp.
Policiais civis cumpriram buscas na residência do suspeito, nesta quarta-feira (17). Segundo informações da polícia, o carro de Cleiton foi guinchado e vai passar por uma perícia. A investigação quer apurar se o veículo dele foi utilizado para levar a vítima até o município de Alfredo Chaves, onde o corpo foi localizado.
A polícia apreendeu ainda emblemas usadas pela Polícia Militar.
Perfil de Cleilton Santana dos Santos, de 27 anos, ex-namorado da enfermeira Íris Rocha, 30 anos, grávida de 8 meses, e encontrada morta em Alfredo Chaves, Região Serrana do Espírito Santo — Foto: Reprodução
Cleiton Santana é formado em Direito. Antes de deletar uma de suas redes sociais, podiam ser vistas em seu perfil as informações “cristão”, “investigação forense e perícia criminal” e uma mensagem bíblica.
Segundo a polícia, ele atuava como segurança de supermercado e também como motorista de aplicativo.
De acordo com a delegada, Cleilton se apresentava como ‘soldado Santana’ para as pessoas. No entanto, de acordo com as investigações, não há indícios de participação de nenhum servidor que pertença ao quadro da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES).
Entenda o caso
O corpo de Íris foi encontrado coberto de cal em uma estrada da zona rural de Alfredo Chaves no dia 11 de janeiro. Apenas nesta segunda-feira (15), o corpo foi reconhecido pela família.
A perícia da Polícia Civil informou que a mulher foi atingida por pelo menos dois disparos na região do tórax. No local do crime também foram encontrados 5 cápsulas de bala.
A mãe Márcia Rocha desabafou durante o velório e disse que quer justiça pela morte da filha. “Ninguém sabe essa dor que eu estou sentindo. É uma dor imensa, insuportável, parece que eu não estou aqui.
Íris Rocha tinha 30 anos e foi encontrada morta em uma estrada na Região Serrana do Espírito Santo — Foto: Reprodução/Redes sociais
O corpo da enfermeira foi levado para o Serviço Médico Legal (SML) de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do estado, onde passou por exames e foi liberado para a família.
A Polícia Civil informou que o fato segue sob investigação da Delegacia de Polícia (DP) de Alfredo Chaves.
De acordo com as investigações, não há indícios de participação de nenhum servidor que pertença ao quadro da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES).
Quem era Íris?
Íris era mestranda em Ciências Fisiológicas na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), também deu aulas em um curso técnico de Enfermagem e ainda atuava como pesquisadora no Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), conhecido como Hospital das Clínicas, em Vitória. Segundo o centro médico, ela era coordenadora do estudo CV-Genes, que avalia o impacto do componente genético como fator de risco para doença cardiovascular aterosclerótica na população brasileira.
Além de estar no oitavo mês de gestação, Íris também tinha um filho de 8 anos.
A Ufes divulgou uma nota de pesar sobre a morte de Íris.
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) publicou nota de pesar sobre a enfermeira que era mestranda — Foto: Reprodução/Internet
O Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES) também se manifestou sobre a morte de Íris.
Fonte;g1